Duas capangas grudentas


“Paro e me apoio na balaustrada e meus pensamentos se tornam sombrios. É então que as duas me encontram. A depressão pela esquerda, a solidão pela direita. Sequer precisam mostrar seus distintivos. Pergunto a elas?
– Como vocês me encontraram aqui?
A depressão, sempre bancando a esperta, diz:
– Como assim, você nao está feliz em nos ver?
A solidão, a mais sensível das duas, diz:
– Desculpe, mas talvez eu precise seguir a senhora durante a viagem. É minha missão.
Então elas me revistam. Esvaziam meus bolsos de qualquer alegria que eu tivesse carregado até ali. A depressão chega a confiscar minha identidade, sempre faz isso. A solidão começa a me interrogar. Pergunta se eu tenho algum motivo de estar feliz. Essas duas capangas continuam a me seguir.
– “Não é justo vocês virem aqui. Já paguei vocês”, digo.

A depressão acomoda-se na minha cadeira preferida, acende um charuto, enchendo o aposento com sua fumaça desagradável. A solidão deita-se na minha cama e se cobre com as cobertas. Estou sentindo que vai me obrigar a dormir com ela de novo esta noite.
Verbos que interagem com a depressão e a solidão

*** Trecho que me marcou talvez porque eu me identifiquei profundamente com eles. Essas duas déspotas, sempre reinaram magistralmente sobre meu Nilo vestido de eu. D&S, quem dera fossem tão estilosas quanto Dolce e Gabbana. A depressão sempre come do meu feijão e me faz  ingerir tabletes de chocolate com ela. A solidão se planta no meu quarto como uma deusa a quem eu tenho de servir. Malvadas, elas aparecem com tapete vermelho e holofotes luminosos no livro: Comer, Rezar, Amar.

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