A monja zen budista Coen Sensei prende atenção da inquieta geração Y. Ensina que sapos não serão engolidos quando a mente souber reconhecer a raiva. Promotora da paz, diz que dar uma flor a um policial é uma forma de violência
“Comecei a meditar por causa dos Beatles. Eu os achava inteligentes porque eles praticavam a cultura da paz”. Monja Coen Sensei (65) absorveu a plateia de estudantes durante três horas na cidade de Estrela. Com a voz mansa, ela mostrou na prática como se cativa para a paz, sem dar um tom maior ao ambiente. Coen veio para o Vale do Taquari para divulgar a cultura da paz. Em 2013, Estrela registrou 13 casos de violência sexual e 11 tentativas de suicídio. A monja, que segue os ensinamentos de Buda, fala de uma cultura de paz amplificada. Para ela, não ser violento significa não bater a porta do quarto com força, pisar leve e falar baixo. Ela avisa que é difícil, mas treinando, todos conseguem. O budismo é uma filosofia, mas também é uma ciência da mente, através de meditação e respiração adequada a pessoa consegue modificar o padrão de comportamento. “O budismo é um treinamento da mente para que ela encontroe o seu espaço de paz e tranquilidade e a pessoa tenha ações assertivas no mundo”, explica Coen Sensei.”
Mas o que é ser assertivo por, exemplo, dentro das manifestações de junho em que jovens, policiais e violência tomaram as ruas motivados por uma justa reivindicação de honestidade e transparência governamental? Para a monja Coen, a manifestação foi bela e importante porque mobilizou uma multidão que lutou por causas importantes, mas o excesso de frequência e provocação fez com que perdesse a força. “Quando você escolhe uma forma de comunicação válida, não pode usá-la em todos os momentos. Se for toda semana, perde o poder.”
O grau provocativo contido nos eventos não contribuiu para a conciliação. “Dar uma flor a um policial é uma forma violenta de manifestação.” Treinados para proteger, os policiais consideram, na visão da monja, a flor uma desautorização pública. A budista acredita em acordos. Não apenas em mobilizações. Os acordos surgem em casa. São domésticos, podem ser feitos no campo de futebol para incutir a paz nos estádios. Os acordos surgem dentro do próprio ser. “O dia em que você sair na rua com o seu cachorro e não recolher as fezes dele, outras pessoas farão igual.”
Para a monja Coen o mundo e as pessoas se transformarão através do treino mental e da educação. É preciso que nas escolas os alunos aprendam desde a base noções de filosofia, o modo de viver e pensar da cultura oriental para a expansão da consciência. “A mente precisa de atividade neural, assim como o corpo necessita de atividade física. É importante filosofar, pensar. A mente tem capacidade de aprendizado ilimitado.”
Reconhecer e treinar
Jornal Antena – Com o budismo, podemos treinar a mente?
Monja Coen – “O budismo é um treinamento da mente para que ela encontre o seu espaço de paz e tranquilidade e tenha ações assertivas no mundo.”
Jornal Antena – Então, como podemos controlar a raiva através da mente na hora em que ela aparecer?
Monja Coen – “É preciso reconhecer, rotular a raiva. Perceber o acontece com o meu corpo, com a musculatura, com o meu diafragma e como fica a respiração, trabalhar naquilo que posso e fazer a respiração consciente.”
Jornal Antena – São posturas práticas?
Monja Coen – “Prática e fisiológica. Através da mudança fisiológica,e vou encontrar modificações de atuação verdadeira no mundo. Não é que eu controlo a raiva, não é que engulo o sapo, eu reconheço que é ela. A raiva fica segundos no corpo, percebo o que a motivou e penso em maneiras de transformá-la.
Formas de violência
- Para a monja, os governos também são responsáveis por manter uma cultura de paz porque não dar assistência e saúde a população é uma forma de violência.
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A Justiça que solta criminosos e expõe os habitantes a insegurança não pratica a cultura da paz.
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Quem se omite (governos, pessoas que percebem atos) comete violência.
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Quem sai com cartazes violentos provoca violência
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É preciso viver por direitos e não morrer por eles
Perfil
Monja Coen Sensei é fundadora da Comunidade Zendo Brasil, com sede no bairro do Pacaembu, São Paulo. Participa de caminhadas meditativas em parques de várias cidades do Brasil. Segue os ensinamentos de Buda na preservação do meio ambiente, na defesa dos direitos humanos e em prol de uma cultura de paz. Na mocidade foi jornalista na época da ditadura, depois foi para a Califórnia onde entrou em contato com a meditação e o budismo. Permaneceu oito anos num mosteiro feminino do Japão. Retorno ao Brasil, onde obteve lugar de destaque como mulher e budista engajada numa cultura de paz.
Reportagem feita para a Revista Assim (Encantado, janeiro/2014)