O Dia em que ouvi Monja Coen e rabisquei sabedoria no bloquinho


Tênis e manto preto, cabeça careca desprovida de vaidade e uma voz mansa, aconchegante quanto um canto. Aforismos de sabedoria

 

“É preciso assumir nossas insuficiências e poder acolher as falhas das pessoas a nossa volta. Cada geração é uma geração mais madura.

 

E preciso que essa nova geração conheça melhor os mecanismos da mente humana e seja menos violenta.

 

Temos de cuidar da terra como nós cuidáramos do nosso dedinho. Se eu cuido do dedo eu não penso como eu sou boa. Eu cuido e pronto. 

 

A violência começa no útero materno e isso não apenas em famílias pobres. Muitas mulheres criam filhos dentro de um desrespeito à sua maneira de pensar

 

Não e porque você se torna voluntario que o mundo será bom com vc. 

 

Eu sou feita de tudo que não sou eu. Eu n existo sozinho. Não posso pegar uma tesoura e me recortar. Somos feitos da mesma matéria das estrelas. Quanta barbárie foi feita no mundo por se achar que somos diferentes raças. Somos parte da natureza.

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Você não precisa engolir sapos para gerar paz. Transforme sua raiva


monja zen budista Coen Sensei prende atenção da inquieta geração Y. Ensina que sapos não serão engolidos quando a mente souber reconhecer a raiva. Promotora da paz, diz que dar uma flor a um policial é uma forma de violência

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“Comecei a meditar por causa dos Beatles. Eu os achava inteligentes porque eles praticavam a cultura da paz”. Monja Coen Sensei (65) absorveu a plateia de estudantes durante três horas na cidade de Estrela. Com a voz mansa, ela mostrou na prática como se cativa para a paz, sem dar um tom maior ao ambiente. Coen veio para o Vale do Taquari para divulgar a cultura da paz. Em 2013, Estrela registrou 13 casos de violência sexual e 11 tentativas de suicídio. A monja, que segue os ensinamentos de Buda, fala de uma cultura de paz amplificada. Para ela, não ser violento significa não bater a porta do quarto com força, pisar leve e falar baixo. Ela avisa que é difícil, mas treinando, todos conseguem. O budismo é  uma filosofia, mas também é uma ciência da mente, através de meditação e respiração adequada a pessoa consegue modificar o padrão de comportamento. “O budismo é um treinamento da mente para que ela encontroe o seu espaço de paz  e tranquilidade e a pessoa tenha ações assertivas no mundo”, explica Coen Sensei.”

Mas o que é ser assertivo por, exemplo, dentro das manifestações de junho em que jovens, policiais e violência tomaram as ruas motivados por uma justa reivindicação de honestidade e transparência governamental? Para a monja Coen, a manifestação foi bela e importante porque mobilizou uma multidão que lutou por causas importantes, mas o excesso de frequência e provocação fez com que perdesse a força. “Quando você escolhe uma forma de comunicação válida, não pode usá-la em todos os momentos. Se for toda semana, perde o poder.”

O grau provocativo contido nos eventos  não contribuiu para a conciliação. “Dar uma flor a um policial é uma forma violenta de manifestação.” Treinados para proteger, os policiais consideram, na visão da monja, a flor uma desautorização pública. A budista acredita em acordos. Não apenas em mobilizações. Os acordos surgem em casa. São domésticos, podem ser feitos no campo de futebol para incutir a paz nos estádios. Os acordos surgem dentro do próprio ser. “O dia em que você sair na rua com o seu cachorro e não recolher as fezes dele, outras pessoas farão igual.”

Para a monja Coen o mundo e as pessoas se transformarão através do treino mental e da educação. É preciso que nas escolas os alunos aprendam desde a base noções de filosofia, o modo de viver e pensar da cultura oriental para a expansão da consciência. “A mente precisa de atividade neural, assim como o corpo necessita de atividade física. É importante filosofar, pensar. A mente tem capacidade de aprendizado ilimitado.”

 

Reconhecer e treinar

Jornal Antena – Com o budismo, podemos treinar a mente?

Monja Coen – “O budismo é um treinamento da mente para que ela encontre o seu espaço de paz  e tranquilidade e tenha ações assertivas no mundo.”

Jornal Antena – Então, como podemos controlar a raiva através da  mente na hora em que ela aparecer?

Monja Coen – “É preciso reconhecer, rotular a raiva. Perceber o acontece com o meu corpo, com a musculatura, com o meu diafragma e como fica a respiração, trabalhar naquilo que posso e fazer a respiração consciente.”

Jornal Antena – São posturas práticas?

Monja Coen – “Prática e fisiológica. Através da mudança fisiológica,e vou encontrar modificações de atuação verdadeira no mundo. Não é que eu controlo a raiva, não é que engulo o sapo, eu reconheço que é ela.  A raiva fica segundos no corpo, percebo o que a motivou e penso em maneiras de transformá-la.

 Formas de violência

  • Para a monja, os governos também são responsáveis por manter uma cultura de paz porque não dar assistência e saúde a população é uma forma de violência.
  •  A Justiça que solta criminosos e expõe os habitantes a insegurança não pratica a cultura da paz.

  • Quem se omite (governos, pessoas que percebem atos) comete violência.

  • Quem sai com cartazes violentos provoca violência

  • É preciso viver por direitos e não morrer por eles

Perfil

Monja Coen Sensei é fundadora da Comunidade Zendo Brasil, com sede no bairro do Pacaembu, São Paulo. Participa de caminhadas meditativas em parques de várias cidades do Brasil. Segue os ensinamentos de Buda na preservação do meio ambiente, na defesa dos direitos humanos e em prol de uma cultura de paz. Na mocidade foi jornalista na época da ditadura, depois foi para a Califórnia onde entrou em contato com a meditação e o budismo. Permaneceu oito anos num mosteiro feminino do Japão. Retorno ao Brasil, onde obteve lugar de destaque como mulher e budista engajada numa cultura de paz.

Reportagem feita para a Revista Assim (Encantado, janeiro/2014)